A doença pode nos tornar criativos

Convivendo com Diabetes

Um paciente, de apenas 6 anos, me pergunta se a clínica é, assim como a cabeça dele, um lugar onde se pode criar coisas. Respondo que sim, com um sorriso no rosto. Me refiro ao espaço em que é possível o encontro entre psicólogo e paciente, analista e analisando. Aqui, o espaço da clínica, que é mais do que o espaço físico, e o processo terapêutico são essencialmente a possibilidade de criação de outras formas de existências. Mais potentes, mais flexíveis, mais ativas.

Penso que a descoberta de uma doença crônica nos coloca também em momentos de criação. Se a maneira como vivia era conhecida e confortável (será?), a partir de uma nova condição de saúde será necessário reconfigurar esse modelo, criar uma nova forma de viver e de se cuidar. Vai ser preciso se reinventar.

E sabe o que tenho percebido através do blog e de alguns depoimentos? É que esses novos arranjos, que incluem medição de glicose, insulina, preocupação com os rótulos dos alimentos, produz mundos muito mais saudáveis do que o meu, por exemplo. Não quero fazer o jogo do contente e diminuir a experiência de vocês, que certamente inclui um monte de dificuldades nesse novo modo de se ver e de viver. Mas quero sim fazer um convite à repensarmos o que é saúde e o que é doença.

Em muitas rotinas de pessoas que não tem diabetes ou outras doenças crônicas não estão incluídas alimentações saudáveis. Pelo contrário, muitas vezes nem há uma preocupação sobre o que se come. As atividades físicas também são, muitas vezes, negligenciadas.

Com uma nova condição de saúde é preciso olhar para essas questões de maneira cuidadosa. É preciso criar um corpo preocupado com a manutenção da taxa de glicemia. É preciso reinventar a forma como você lidava com a sua saúde. E é essa capacidade de criação que devemos chamar de saúde, não um corpo em que há a ausência (sempre temporária) de doença.

“O que é chamado de normal e/ou patológico não são normal ou patológico em si, ou seja, não está dado, pronto e acabado” (Canguilhem, 2010).

Ser normal (saudável) está muito associado, então, a ser criativo, a ser capaz de lidar com a polaridade da vida, de arrumar um jeito próprio de viver com as limitações que a vida impõe, a todos nós.

Mariana Carvalho (CRP: 05/48926) é psicóloga e atende no Rio de Janeiro. Para entrar em contato, basta enviar um e-mail: carvalho.m.psi@gmail.com

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