Falta de medicamentos coloca em risco a vida de pacientes com diabetes no Rio de Janeiro

Convivendo com Diabetes

Por Beatriz Libonati

Desde o ano passado, Sarah Rubia enfrenta dificuldade para conseguir receber os insumos necessários para o filho Igor, de 14 anos, que é diabético tipo 1. Por meio de um mandado judicial ela conseguiu o direito à bomba de insulina, além da manutenção mensal do tratamento. Mas com a falta de insumos na Secretaria de Saúde do Estado do Rio de Janeiro, Sarah teve que comprar do próprio bolso e contou com a ajuda de amigos.” O tratamento é caro, pode chegar a quase R$ 2 mil por mês. Algumas pessoas se sensibilizaram e me ajudaram quando o Estado não cumpriu com a sua obrigação”, contou. Preocupada com a constante falta de medicamentos, ela entrou com um processo na justiça pedindo o bloqueio de bens do Estado, uma forma de garantir o tratamento do filho. A espera foi longa. O processo começou em novembro, só saiu há duas semanas e o resultado é provisório. “Consegui garantir por mais três meses, e depois disso não sei como vai ser”, desabafou.

A realidade de Sarah é a mesma de outros pacientes e mães que têm filhos com diabetes no Rio de Janeiro. Para o tratamento de diabetes tipo 1, é necessário insulina, agulhas, seringas e fitas de medição de glicose.  Além do alto valor dos insumos e medicamentos, não é tão simples conseguir o tratamento pelo SUS. O Governo Federal só disponibiliza apenas duas insulinas nas Farmácias Populares, que são a NPH e a Regular. No entanto, nem todo paciente consegue obter um bom controle da doença com essas insulinas, que são antigas. Para isso, é necessário recorrer as mais modernas, chamadas de análogas de insulina que em contrapartida são bastante caras e o processo é burocrático para retirar pelo estado. Já o usuário de bomba de insulina precisa entrar com um processo contra o Estado pedindo o seu tratamento. E em alguns casos, o pedido é recusado. Depois dessa dificuldade para conseguir o tratamento, agora, os pacientes enfrentam a falta dos medicamentos.

No último dia 25, Sheila Vasconcelos, de 46 anos, usuária de bomba de insulina esteve na Secretaria de Saúde e já na porta viu a resposta para o seu tratamento, já que um aviso colado no vidro dizia: Não temos insulina. “O Estado é obrigado a entregar via processo judicial mas não o faz. Insulina é vida. Querem a nossa morte?”, disse. Já Nilda Peres, que tem um filho de 14 anos insulinodependente, passou pelo o mesmo. “Já era para os medicamentos terem voltado no dia 25, mas liguei para lá e ainda não tem”, falou.

Problema antigo

Segundo Raquel Ornelas, mãe de Lucas, de 11 anos que é diabético tipo 1, sempre falta algum insumo para o tratamento do filho. “Ano passado, fiquei o ano inteiro sem receber o adesivo que conecta a bomba de insulina ao corpo. Ele usa 24 unidades por mês. Só a caixa com 10 custa R$600,00. Além disso, estou sem conseguir receber as fitas de medição de glicose e sem ela não podemos aplicar a insulina”, contou.

A situação é grave. A falta de medicamentos no Rio afeta diabéticos e outros portadores de doenças crônicas, como insuficiência renal, esquizofrenia, lúpus, entre outros. De acordo com a Defensoria Pública do Rio, estima-se que 70 mil pessoas estejam sendo prejudicadas com a falta de remédios, que são determinantes para o paciente continuar vivo.

Comissão de Saúde da Câmara vai entrar com representação no Ministério Público 

Diante deste quadro, parlamentares da Assembleia Legislativa e da Câmara Municipal do Rio vão cobrar do governo explicações.  O vereador Paulo Pinheiro (Psol) membro da Comissão de Saúde da Câmara, disse que é lamentável o que os governos estadual e municipal estão fazendo com a saúde pública. “Como parlamentar estou encaminhando ao Ministério Publico uma representação solicitando medidas judiciais para que o governo seja obrigado a adquirir os medicamentos necessários. Isto é um crime que precisa de punição”, destacou. Ainda segundo o vereador, o motivo alegado pela Secretaria de Saúde seria a falta de recursos devido à crise financeira. Por meio de nota, o Instituto Estadual de Diabetes e Endocrinologia Luiz Capriglione (Iede) informou que somente há desabastecimento da insulina Lantus. E que os pacientes que fazem uso desta não estão desassistidos, pois ela está sendo substituída pela insulina Levemir. A direção do Iede informou, ainda, que o processo licitatório para aquisição da Lantus está em andamento. Em relação à falta de refil e insumos para os pacientes que usam bombas de insulina, até o fechamento desta matéria, não obtivemos resposta.

Pessoas atingidas pelo problema podem recorrer à Defensoria Pública do Rio com o laudo e prescrição médica através da Central de Relacionamento com o Cidadão (CRC) pelo telefone 129 ou via atendimento online, pelo  site http://www.portaldpge.rj.gov.br/

 

 

 

 

 

Um comentário

  1. sheila vasconcellos disse:

    Sensacional!!! Vamos repercutir…

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